“A minha cama torna-se imensa quando não estás. Às vezes, acordo de noite e procuro-te na almofada ao meu lado. Nada. Abraço-me ao teu cheiro e aos cabelos que me deixas na cama. Tenho pena que eles não me aqueçam. Adoro que amenizem o vazio que dorme a meu lado. Sinto a tua falta no silêncio. Sinto a falta do barulho de cachoeira da tua respiração. Dos suspiros nocturnos entre sonhos. Na minha cabeça sonhas comigo. Na minha cabeça adormeço todos os dias ao teu lado: com o teu rosto no meu peito e os teus braços entrelaçados em mim. Não sei se sabes, mas tenho medo de me perder por aqui, sozinho, na escuridão.
Não sei se alguma vez te disse: não há Este, nem Oeste. Há apenas o sítio onde estás quando o sol nasce e o sítio para onde vais quando o sol se põe. Não sei como fazes. Continuo a achar que és o eixo sobre o qual a terra gira. Que as flores na Primavera desabrocham para te dizer olá. E que, a chuva no Inverno cai de veludo do céu, à tua passagem. Gostava de saber se a areia te beija os pés como me beija a mim, ou se também te trata de forma especial, como só tu mereces ser tratada. Gostava de saber como fazes para sorrir da maneira que sorris. O que fazes para me prender a ti como prendes. Não sei onde arranjaste esta corda que me prende a ti. Sinceramente, não me interessa saber. Adoro estar ancorado a ti, ou amarrado, ou incrustado, ou o que quer que seja. Adoro.
Não sei se sabes, mas tenho sono. Este desabafo é só um pequeno desabafo de mais uma noite em que vou procurar-te pelos lençóis. É só mais uma noite em que vou acordar: uma, duas, três vezes. Tu não vais estar. Vão estar os teus cabelos, mas tu não. Vai estar o teu cheiro, mas tu não. A saudade aqui ao meu lado, mas tu não. Volta depressa, no meio do silêncio. Abraça-me com força até acordar. Tenho saudades tuas.”
- PedRodrigues, “Não sei se sabes, mas…”, Os Filhos do Mondego (aconselho)
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