domingo, 6 de novembro de 2011

What really grinds my gears #6

Tanto a minha mãe como o meu pai são professores. Ensinam os dois miúdos do segundo ciclo, portanto escusado será dizer que é bastante frequente para mim estar à mesa às refeições e ouvi-los a comentar o idiotas que os gaiatos andam a ficar. A cada ano que passa os oiço reclamar mais, e não é para menos. As crianças (a que actualmente gosto de me referir como “estúpidos dos cachopos”) estão cada vez piores. Em que sentido, perguntam vocês? Deixem-me então referir aqui alguns exemplos. A cada ano que passa é mais frequente eu passar por uma escola pré-primária e ouvir um grupinho de miúdos juntar-se e começar a gritar “oh gaja boa”, “anda cá, oh tu!”, ou “eia, as mamas da gaja”, entre outras coisas que não vou aqui dizer porque o meu blog funciona em horário nobre e eu não quero chocar as famílias que se juntam à hora do jantar para ler o meu blog e rir em conjunto (sim, o meu blog funciona tanto como actividade familiar). Vá lá, eu na pré-primária só queria era brincar com os meus amigos, jogar às escondidas e sujar-me na terra, e agora as miúdas é só pintar unhas e falar do Justin Bieber, enquanto os rapazes mandam piropos/gritam às pessoas/cospem para a rua quando as pessoas passam (verídico, presenciei um momento assim o ano passado). E a que se deve isto, perguntam vocês? Eu tenho uma teoria… Os pais cada vez menos sabem educar os filhos. É verdade. Actualmente os papás têm medo de bater o pé e dizer aos filhos que isso não se faz, que isso está errado, que aquilo é feio. Não posso dizer que tenha sido uma criança que tenha apanhado muito, mas sei que quando fazia porcaria os meus pais eram senhor e senhora de me darem uma palmadinha no rabo para eu ver que não podia repetir a façanha. Nos dias que correm os pais querem agradar demasiado aos filhos e evitam ao máximo contrariá-los. “Ah, mas tu dizes isso só por dizer”. Não. imageNão digo. Como é que eu sei? Pois é, eis que no outro dia estava eu muito bem sentada no autocarro lá em Coimbra, a ir para casa depois de um dia exaustivo a jogar Minesweeper durante a aula de PACWeb, e eis que atrás de mim se senta uma senhora com o seu filho com os seus 5, 6 anos. O menino tinha um carrinho de brinquedo e estava a brincar com aquilo durante a viagem. Eu ia muito bem a ouvir música, abstraída do que se passava atrás de mim, mas tive de tirar um phone porque o menino estava a guinchar assim um bocado alto, e eu queria ver o que se passava. Ora, nada, era só a porcaria do cachopo que não se calava. Achou que aquilo era um sítio digno de mostrar a sua voz de castrati. Então a senhora sua mãe, com uma voz muito suave diz “oh amor, não podes gritar assim aqui… Olha lá fora tão bonitas as árvores…” e o menino responde com um belo movimento de braços que provoca o atiramento do carro para os lugares da frente. Portanto, aquilo foi parar aos meus pés. Tinha à minha frente duas pessoas sentadas viradas para mim, era daqueles conjuntos de quatro bancos, dois de frente para outros dois. Apanhei então a porcaria do carro e com um sorriso muito adorável devolvi a porcaria do carro à senhora. Ela sorriu e agradeceu. Então disse ao menino com a mesma voz suave “oh querido, assim não! Não atires outra vez o carro, viste que a menina estava zangada? Sim, sim, a menina estava com uma cara chateada, tu é que não viste, não podes fazer isso.”. E o menino achou por bem voltar a atirar o carro outra vez. Com mais força. Que foi parar aos pés do senhor que estava à minha frente, que se notava que também não estava a achar muita piada. O senhor pegou no carro e deu à senhora, que sorriu e disse “obrigada” e o devolveu ao miúdo. E voltei a ouvir um “oh amor, tens de parar. Vá, pára lá de atirar o carro às pessoas e vê o rio lá fora. Olha o rio tão bonito!” e eu a pensar para mim já com todos os palavrões possíveis e imaginários “se a m**** do carro vem aqui parar, eu desfaço a tromba ao filho da p*** que o fez, e a seguir parto a boca ao cachopo” (sim, eu estava mesmo muito irritada). Eis que o carrinho voou até aos meus pés mais uma vez, desta vez desmanchando-se em dois bocados. Eu peguei num e dei a senhora, e aí sim, fiz um ar chateado. Ao que ela me agradece com um “hmm, falta outra parte”. Eu olheimagei para ela com cara de “are you fucking kidding me?” e procurei o outro bocado, que lhe passei para a mão. E ouvi-a dizer ao filho com a linda voz suave (que acho que se chamava Bruno, mas tendo em conta que gosto do nome, vamos dar-lhe um que acho mais apropriado) “mau, oh cachopo estúpido, assim não pode ser. Assim tenho de te tirar o carro”. Pois, não tirou, porque aquela porcaria voltou a cair-me aos pés. Eis que eu pego naquela porcaria, me viro para trás, passo aquilo à mulher e digo “se calhar tirar-lhe isto das mãozinhas não era má ideia, não acha?” e vi o sorrisinho doce dela transformar-se numa cara de “pois, se calhar”, e não ouvi mais barulho atrás de mim. Pois é. No fundo, coitadinho do menino que não podia estar sem o brinquedo. E tenho mais um exemplo, mas não me irritou tanto quanto este. Uns dias depois fui à loja da Vodafone, para me informar sobre o novo tarifário de estudante universitário (INFORMAÇÃO BASTANTE RELEVANTE, ATENÇÃO!). Tirei uma senha e sentei-me lá num sofazinho muito fofo enquanto esperava. Também à espera estava um senhor com uma menina, para aí de 4 anos. E estavam em todo um momento fofo de confraternização papá-filhinha pequenina, em que a miúda ia buscar panfletos que estavam no balcão e os atirava para cima do pai, e o paizinho sorria com um ar de “that’s my girl”. Então a miúda sai de perto do pai e começa a ir buscar tudo o que é panfleto pela loja. Tudo o que havia de papel naquele sítio era digno de mexer. Eu olhei com um bocado ar de choque, porque as funcionárias também não pareciam estar a achar muita piada. E ela lá continuava, ia buscar os papeis e espalhava-os pela loja, tão bonita. Depois ia atrás do balcão. As funcionárias sorriam com aquele sorriso cínico de quem diz “odeio a minha vida e adorava bater-lhe”. E ela lá andava debaixo dos balcões, com panfletos na mão. O cúmulo foi quando ela apanhou um telemóvel daqueles que estão presos por um cabo, para mostrar às pessoas, e começou a bater no ecrã e nos botões. E depois bateu com o telemóvel. E a única coisa que vi o pai fazer foi levantar o braço, acenar à menina e dizer “Leonor! Anda para o pé do papá, que as senhoras não estão a gostar!”, ao que a menina sorriu e atirou um panfleto para perto do sofá onde eu e o senhor estávamos sentados. E só quando o senhor viu o meu ar de choque (eu estava literalmente com a boca aberta a olhar para aquilo) é que foi pegar na miúda e a meteu ao colo dele.
Agora eu pergunto-me, ISTO É NORMAL, OU FUI EU QUE FUI EDUCADA DE MANEIRA MUITO SEVERA?! Não. É uma coisa que me irrita a sério, eu nunca gostei de ser repreendida pelos meus pais, ainda hoje não gosto, mas sei que quando sou é porque estou a fazer porcaria, e tento não repetir. Os miúdos de agora nem repreensões têm. Mas que mundo é este? É uma questão de tempo até os “estúpidos dos cachopos” começarem a fazer literalmente tudo o que lhes apetece e terem os pais ao lado a bater palmas e a sorrir com um olhar orgulhoso.

kidpunch

4 comentários:

Romicas disse...

Nice girl!!

L disse...

Quando voltas, voltas a sério! (e está descansada, a Matilde vai levar muito tau-tau :D)

Papagaio disse...

Não há crianças más: há, sim, maus pais!

fiazovsky disse...

só para dizer que como tem uma filha perfeita, é porque é bom pai... txiiii!